segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Meus alunos perguntam sobre o beijo gay na TV. O que devo dizer?

AUTOR: Maria Helena Vilela,diretora executiva do Instituto Kaplan onde coordena a área de Educação Sexual
Estava me programado para escrever sobre outro tema, mas, na semana passada, aconteceu oprimeiro beijo entre homens em uma novela brasileira no horário nobre. O beijo entre os personagens Félix e Niko (vividos pelos atores Mateus Solano e Thiago Fragoso, respectivamente) foi um dos dez assuntos mais comentados nas redes sociais. A cena no final da novela “Amor à vida” teve repercussão até na mídia estrangeira.
E os professores não ficaram imunes a esse fato. Recebi alguns e-mails de professores preocupados com a repercussão dessa cena na escola. Um perguntava: Como devo proceder se meus alunos comentarem esse beijo? Outro dizia que não concordava com a exibição da cena e questionava: Tenho que mentir para meus alunos para ser politicamente correto?Recebi inclusive a seguinte dúvida: Essa cena de novela poderia estimular os garotos a serem gays?
Eu respondo aos professores com toda convicção: esta é uma grande oportunidade para conversar com os alunos sobre o respeito à diversidade sexual. É bom lembrar que filmes, novelas e noticiários podem ser ótimos “ganchos” para tratar de temas importantes.
A cena do beijo poder ter um efeito positivo em nossa sociedade porque fez muitos jovens e adultos refletirem e discutirem sobre o relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo. Mas a cena foi só a cereja do bolo. Mais importante do que sua exibição foi desmistificar por meio da televisão o relacionamento homossexual, mostrando como os dois personagens construíram sua relação afetiva. Na novela, Felix e Nico têm sonhos, formam família, fazem projetos de vida, cuidam um do outro, sentem-se felizes com o companheirismo e, portanto, trocam carícias. O beijo foi retratado como uma consequência do relacionamento da dupla.
Conversando com os alunos sobre o beijo gay
Uma boa forma de conduzir a discussão em classe é usar a metodologia da problematização. Convide a turma a comentar o assunto e experimente devolver para eles as perguntas que surgirem. Ouvindo os alunos, o professor terá condições de identificar preconceitos e sinais de desinformação para então organizar sua intervenção, levando em conta a idade do estudantes e os tipos de inquietação.
Com base nas respostas, instigue os alunos a enxergar o problema da homofobia e a tratar a relação entre duas pessoas do mesmo sexo de outra maneira, ajudando-os a esclarecer dúvidas e a respeitar o próximo independente de sua orientação sexual. Um aluno pode comentar, por exemplo, que “gays não valem nada”. Nesse caso, mencione artistas que se declararam homoafetivos, como os cantores Cazuza, Ricky Martin e Ana Carolina. Desmonte o argumento perguntando qual a opinião do aluno sobre esses artistas.
Tenho que ser politicamente correto?
Não. A expressão correta é ser “respeitoso” – e não “politicamente correto”. A homossexualidade é um fato presente na sociedade. Ela deve ser respeitada. Para isso, não é necessário ser militante e muito menos fingir ser o que não é. Respeitar, nesse caso, não significa aprovar, admirar ou venerar. O respeito que a escola deve desenvolver em seus alunos é o princípio de não discriminar ou ofender outra pessoa por causa de sua forma de viver ou de suas escolhas. É essa atitude que combate a homofobia.
O beijo gay na TV estimula as crianças a se tornarem gays?
A resposta também é não. Ninguém se torna homossexual porque vê duas pessoas se beijando. E muito menos porque teve a oportunidade de refletir e desenvolver um pensamento crítico e compreensivo sobre o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo!
FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/educacao-sexual/2014/02/06/meus-alunos-perguntam-sobre-o-beijo-gay-na-tv-o-que-devo-dizer/

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